quarta-feira, 19 de maio de 2010

Uma crônica...(Tensão na padaria)

O lugar, uma padaria. Os personagens, um homem, uma mulher e um rapazote.
O homem chega, cansado de um dia de trabalho.
Cansado de viver naquilo que chamam de “Brasil”.
Escolhe os mesmo pães franceses que compra todos os dias a fim de alimentar a família.
Na fila do caixa, para atrás de uma senhora,
muito bem vestida e ornamentada. Rica.
A fila, é grande. O dia foi grande. O cansaço maior ainda.
Chega a vez da senhora. O homem se endireita esperando sua vez.
Neste momento para junto à porta um rapazote, moleque de rua.
A mulher o observa, a atendente o observa.
Ele tem o rosto abatido, as roupas surradas, está despenteado.
Pede a senhora, imprimindo a sua voz o pouco de educação que aprendeu
sabe-se lá onde que, por favor, o compre um pão para que mate a fome.
O homem atrás da senhora observa, a senhora ignora o garoto.
Ele, acostumado a ser ignorado toma coragem e repete a pergunta.
O homem observa...
A mulher respira fundo e responde ao rapaz:
_Não tem vergonha, garoto? Com esta idade poderia estar trabalhando.
E continua:
_Com esta força poderia estar arrumando emprego, mas prefere pedir a trabalhar.
O garoto se recolhe, numa posição de defesa que aprendeu desde cedo.
O homem observa.
A mulher, triunfante, olha ao redor procurando aprovação.
A atendente de caixa lhe retorna um sorriso de apoio.
O homem observa...
A mulher se vira para o homem e, procurando aprovação,lhe pergunta se este concorda.
O homem, cansado, abatido, empobrecido, em fim, brasileiro, a olha e responde.
Ele, para espanto geral dos presentes, realmente responde em alto e bom som:
_Não, não concordo.
A mulher, assustada, se embranquece.
Ele, que já não mais observa, continua:
_A senhora recebeu uma pergunta dicotômica, ou seja, de sim ou não.
_Mas ao invés disto preferiu dar ao garoto algo que ele já tem de sobra.
_Preferiu humilhá-lo na frente de todos.
A mulher, agora aterrorizada, olha em volta com se pedisse intervenção.
O homem continua.
_A senhora diz que ele devia estar trabalhando, mas pergunto?
_Se ele batesse a porta de sua casa e se oferece para cuidar do jardim ou lavar seu carro.
_A senhora lhe daria emprego?
_Tenho certeza absoluta que não. Então, bastasse ter respondido que não daria o pão.
Na padaria, os presentes se dividem entre os que apóiam o homem,
E os que condenam sua atitude.
Em fim, observam.
A senhora, muito bem vestida e ornamentada já não tem a pose de antes.
O homem, paga sua compra. Tira da sacola dois pães e os põe em outra sacola.
Entrega a sacola ao garoto, que agradece quase sem voz.
O homem sai andando, agora menos cansado, menos abatido, menos brasileiro.
O mundo observa...

Kind, Guilherme (19/05/2010)

3 comentários:

  1. Situação complicada, complexa demais para ser discutida, mas meu humilde ponto de vista!

    Brasileiros? Quem são, o que são?
    Somente um ou dois patriotas, o resto da população apenas quer viver, pensa em conseguir sua vida, seu dinheiro, criar seus filhos e por aí vai, passar a vida, esbanjar, gozar o que conseguiu e/ou tem.
    Estão errados? Não sei, pergunta sem resposta, em parte sim, em parte não, quem hoje quer ser a palmatória do mundo?????? Você???? Pois EU e o resto do mundo temos nossas vidas pra cuidar!
    Assim pensam muitos! Vivem muitos! Cada um olhando para "o seu umbigo gordo egoísta", com me disse uma vez um amigo!

    De outro lado um homem menos Brasileiro, mas menos brasileiro? ou menos Homem, e mais humano?
    É complicado, ajudar o próximo bem próximo? Ajudar o próximo que não se vê?
    Ajudar e cobrar? ou Ajudar por ajudar?
    Ou fazer o que não fazem por nós?
    Ou dar a césar o que é de césar?????

    Ao agonizar numa cama de hospital, sendo tratado como um animal, caso sua família não lhe queira mais, não lhe queira bem, quem irá por você?

    Amanhã na padaria seria assaltado?
    Tomaria um tiro por um pão???

    Mas ainda há esperança...

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  2. Uma história a ser lida e refletida, infelizmente o mundo continua podre e preconceituoso, é sempre o bom ajudar o proximo, que assim possivel.
    Raquel Kind

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  3. Bem não venho trazendo comigo uma opinião formada e ou especifica, mas sobra da parte da minha pessoa experiência do mesmo tipo tão negativa quanto, com relação a tal acontecimento mesmo que por vez seja hipotético, por infindas vezes andando pelas ruas de Teófilo Otoni nos deparamos com tal sena então fica o breve comentário.
    É problema de quem? Que tenham tantos na rua pedindo, pois não teen emprego para se suster, a minha resposta para tal pergunta simplesmente se baseia na minha própria opinião.
    Acho eu que não seria problema nosso se ao invés de ficarmos culpando o nosso tão falado e discursado “sistema perfeito” fizéssemos a nossa parte, não ajudando dando o pão, mas sim exigindo providencias das classes minoritárias que regem nosso país a punhos de ferro. vergonhoso tal fato que todos os dias vemos mst mssss e mssss por todos os lados temos greves sem fim temos reclamações de que um vereador ganha muito quando o mesmo acha que ganha pouco, um empresário que frauda licitações bilionárias, temos um pai de família que ganha um salário por mês e sustenta cinco filhos na escola a trancos e barrancos temos um catador de papel que tira do lixo o seu sustento, temos uma mãe de família que sustenta seus filhos lavando roupas, temos um pai de família que prove o pão vendendo doces nas ruas e no fim temos uma classe privilegiada que só existe porque permitimos, pois é mais fácil tentar encontrar um culpado a fazermos nossa própria parte para mudarmos esta historia.
    Se não me fiz bem claro digo a curtas e grosas palavras CHEGA DE FALAR E MÃO NA MASSA PORRA brasileiros ou não conheço italianos libaneses e varias outras pessoas de diferentes nações que moram em nosso país que trabalham para isto então o caso não é ser mais ou menos brasileiro e sim humanos.

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