quarta-feira, 5 de maio de 2010

Controle remoto...


Há 10 anos estreava no Brasil aquela que considero uma das piores representações possíveis de como se pode usar a mídia para "emzombizar" as pessoas. O Big Brother, programa que, creio eu, tem origem na Holanda (ou foi criado por um holandês, não me lembro bem) se auto-intitula "reality Show" ou show da realidade. A má fé e contraditariedade já começam pela auto definição, afinal, o que há de real naquilo?

Afirmo, sem medo de equivoco que, fora a primeira veiculação daquele show de horrores, não assisto ao programa. E o fato de ter assistido a sua primeira instalação me dá respaldo para escrever este texto, afinal, não se pode opinar ou criticar algo que não se conhece. Li, há algum tempo, um relato que possui, espero que não só para mim, uma boa dose de realidade – e outra maior ainda de censo prático – acerca de programas deste tipo. Segundo o referido autor aquela “realidade” que é mostrada em um programa como o Big Brother é uma das causas para revolta geral da classe miserável que super popula nosso país.

Imagine acordar às 5h da matina, pegar um metrô/ônibus superlotado para uma "viajem aconchegante" de 2 horas, trabalhar 8h (oficialmente), e fazer o mesmo trajeto de volta para casa, sentar a frente do aparelho de TV e se deparar um bando de modelos sarados e futuras capas de playboy se esbaldando em um mundo fantasioso onde as palavras privação e escassez são usadas apenas em jogos e disputas que tem como prêmios carros, motos ou algo em torno de sete dígitos. Não me lembro exatamente onde li sobre isto, mas a abordagem é pertinente.

Toda a abundancia (com ou sem duplo sentido) mostrada constantemente no Big Brother é, a meu ver, uma dose colossal de insulto e hipocrisia que me remete aquelas brincadeiras de criança de "eu-tenho-você-não-tem". Porém, enquanto a brincadeira infantil geralmente acabada com desentendimentos, empurrões e "vou contar para minha mãe" a brincadeira na vida real acaba em seqüestros, assaltos e morte.

Não estou jogando sobre um programa de televisão todo o peso e responsabilidade da violência com a qual convivemos. Nisto, temos todos uma parcela da culpa, nem que seja por "apenas" aceitar a avacalhação cotidiana no planalto central ou por não saber ao certo em quem votou poucos meses após a eleição.

É por estas e outras que estamos na "merda" em que estamos. Aceitamos de bom grado o que é nos é empurrado goela abaixo pela programação televisiva. Ao passo que o agora ex-governador Arruda era liberado da cadeia (do onde, juntamente com boa parte de Brasília, nunca deveria ter saído) o Brasil era só atenção para o julgamento de um casal de classe média alta que havia assassinado sua filha. E específico "media alta" por que coisas piores que isto acontecem todos os dias em favelas por todo o Brasil e não há sequer menção na grande mídia.

A alienação massificada chegou a um ponto insustentável em nosso país, onde somos, como grandes idiotas que nos tornamos, ditados sobre o que vestir, comer, escutar, chorar e idolatrar. Nossa adolescência é caricaturada de forma absurdamente débil em programas como Malhação, onde jovens são retratados como totais imbecis deformados socialmente. Não é a vida imitando a arte ou o contrário. É, na verdade, a arte depredando (e influenciando) a vida.

Nosso país se orgulhou e festejou com a escolha para ser sede das olimpíadas em 2016 mesmo, em sua grande maioria, sabendo que não terá oportunidade de atender ao evento. Mas não houve festa quando noticiado nacionalmente que a reforma agrária havia sido aprovada, que o sistema público de saúde havia sido reestruturado, ou que haveria reajuste no salário mínimo sem o aumento condicionado das taxas de juros. Nosso país não festejou estas noticias porque elas não aconteceram. Eventos esportivos deste porte, assim como o Big Brother, servem apenas para desviar a atenção do que realmente importa.

O que é mostrado em nossa programação diária serve para dar à população uma falsa esperança de que as coisas não estão tão ruins assim, afinal, o pronto socorro decrépito onde você passou três noites subvivendo e sofrendo com dengue sem qualquer atendimento não se parece em nada com o que é mostrado nas novelas. Tudo é divino e maravilhoso, todos são felizes e o bem sempre vence o mal. E quando acaba a novela e começa aquele jornal “chato” mostrando um Brasil muito mais parecido com o seu você troca de canal ou desliga a TV.

Acho que o que falta realmente no Brasil é a opção de troca de canal...

Os nomes/marcas de programas televisições mensionados no texto são propriedade intelectual de seus respectivos autores.

5 comentários:

  1. Realmente a população brasileira está muito mais preocupada com aquele capítulo da novela onde "Zé descobre a traição de Maria" ou "o bofetão que Joana vai dar em Beth", do que com os escandalos que ocorrem diariamente nos bastidores dos nossos órgãos públicos. Nosso país é realmente a nação da banana, um grande banana boat onde todas as pessoas inescrupulosas montam e se divertem, e a população só observa à distância, às vezes até rindo da situação.
    É impressionante a capacidade de alienação do nosso povo. Tanto que as últimas pesquisas mostram o avançado de Dilma Roussef nas intenções de voto para a Presidência da República. Uma pessoal que nunca foi eleita para qualquer cargo público e que está sendo empurrada "guela" abaixo, só porque tem aparecido nas fotos ao lado do Lula. A situação é deplorável, não é à tôa que a educação está um lixo, já que pessoas ignorantes e incultas são mais fáceis de manipular.
    É como a promessa do bolo ao final de Portal... rsrsrsrs

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  2. Bem meu caro, concordo com você sim, mas infelizmente desde que o homem começou a viver em sociedade ele tem uma busca insana por prazer.
    Única e exclusivamente o prazer, pense nisso!

    Já a tempos atrás existia o "pão e circo", para que as pessoas desviassem a atenção da política e do senado, salvo engano em Roma.

    Voltando a busca pelo prazer, onde temos o hendonismo Socrático, (que diga-se de passagem foi despedaçado por Aristóteles com a teoria ética do "Bem e do Homem"), toda a humana bemaventurança se resolve no prazer, seja carnal, seja, psíquico, seja de qualquer outra forma.
    Uma vida não vale mais que um tênis e por algum outro motivo pessoas vendem suas almas por uma pedra de crack. Mas e daí? e o que temos nós com isso?
    Pois bem, seria eu muito prepotente ao querer responder, mas infelizmente não escolhemos a sociedade em que vivemos, não somos mais os "Anarquistas" selvagens que desmembravam do seu grupo e procuravam criar sua cultura, seu micromundo em separado!

    A merda que uma emissora de TV faz atinge toda a humanidade, atinge seu vizinho, quem sabe sua mulher? seus filhos?
    E tudo uma grande balela, futebol, big brother, novelas, e etc....

    Não consigo mais assimilar!

    Abraços, bacana a postagem!

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  3. INFELISMENTE HOJE ESTAMOS DE MÃO ATADAS
    O QUE NOS RESTA, É DA UMA BOA EDUCAÇÃO PRA NOSSOS FILHOS,PRA QUE NO FUTURO
    ELES POSSÃO SER UMS OTIMO GOVERNADORES

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  4. penso que o prazer pode ser educado, até por que não somos lives plenamente, nossas ações são delimitadas pela experiência do meio e das sensações inatas; o nosso conceito de prazer dependerá da construção do mundo que nos cerca. Para tanto, ainda nos resta selecionar o que pensamos ser menos nocivo à mente humana.

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