quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um pouco de música (ou não...)


Algo interessante sobre estilos musicais, neste caso os chamados populares, é a tendência que estes possuem de serem taxados de “vazios” no que diz respeito ao conteúdo lírico de suas canções, algo que sinceramente não concordo, e digo ainda que considero seu maior atrativo (e único).

Tomemos como exemplo estilos musicais (sic) como o FUNK carioca, pagode, axé music e aquele emaranhado bizarro de sons auto intitulado “música do calypso”. As letras das músicas estão longe de serem desinteressantes, é em contra partida interessantíssimo o nível de originalidade alcançado nestas referidas investidas “culturais”. Tente não se emocionar com a profundidade presente em obras primas como “REBOLATION” ou “Tchau, I Have to Go Now” , é notável que estes gênios da música beberam na fonte dos não menos gênios do passado que nos presentearam como pérolas como “Nega do Cabelo Duro” (Esta maravilhosamente dissecada pelo comediante Rafinha Bastos), Boquinha da Garrafa e é melhor eu parar por aqui para não me emocionar.

Eu diria inclusive que seus respectivos autores deveriam ser elevados ao patamar de grandes nomes de nossa literatura como Machado de Assis, Drummond de Andrade, Érico Veríssimo entre outros.

Porém o que me levou a escrevinhar esta presepada toda foi uma súbita mudança que notei no estilo Sertanejo. Se verificarmos desde o nascimento do estilo, sua raiz por assim dizer, notamos alterações consideráveis na temática das canções. Se no início assuntos do cotidiano rancheiro eram mesclados paixão e mulheres (sempre elas), nos anos oitenta pôde-se notar (e infelizmente ouvir também) um temática mais “dordecotovelocrônica” onde havia quase que invariavelmente um marmanjo (no caso dois) chorando por ter sido largado ou corneado. A emoção aflorava e eles não se preocupavam em escondê-la (na verdade faziam montanhas de dinheiro com isto). Já nos anos 90 o estilo sofreu com a falta de identidade muito característica desta década e buscou refúgio na country music dos gringos e até no forró vejam só. E o tema geral das letras seguia estes estilos, onde se falava de solidão/paixão e festanças desregradas respectivamente. Mas, com certeza, a mudança mais brilhante (parece um pleonasmo, mas não é) ocorreu com a adesão da derivação “Universitário” ao estilo. E isto merece um parágrafo próprio.

Se os anos 80 trouxeram ao estilo um ar de “menino chorão” com tendências suicidas e sérios problemas de auto-estima o novo milênio veio apagar por completo esta página negra no histórico dos caras. A ordem agora é ser PEGADOR, baladeiro, polígamo mesmo. E isto é explicito nas letras destas canções. Cito abaixo dois exemplos:

““ Você diz que não me ama você diz que não me quer
Mas vive pagando pau, qual é que é.
Todo dia seu teatro é exatamente igual, você finge que me odeia
mas no fundo Paga- Pau. "” (Fernando e Sorocaba)

Você percebe a humildade latente (bela palavra) do autor que não se faz de rogado ou sofre de um distúrbio seriíssimo caracterizado por sua rejeição a rejeição.

Outro exemplo é a composição “Robin Hood da Paixão” (fala a verdade este título é o máximo), performada pelos compadres Hugo Pena e Gabriel, vejamos uma passagem da letra:


“”Elas dizem que sou galinha,/ que ando fora da linha/
Que a minha praia é a gandaia /
Que eu tenho cara de safado, mulherengo assanhado/
viciado num rabo de saia/depois me procuram, me chamam de amor/
me pedem carinho,e é claro que eu dou/
meninas tenham calma, que eu não sou de ninguém/
tem lugar pra todas/ no meu Harém””

Veja bem a audácia do personagem (imagino eu que seja fictício) no texto, além de se colocar como um superman (ta bom, Robin Hood) nas artes do amor ele usa o plural para falar de suas pretendentes, aliás, que importa tudo isso? O cara tem um Harém! É o Bin Laden!

E quando você acha que acabou a coisa piora:

“”Deve ser o mel que a mamãe me passou/ Deve ser o céu que elas pedem, eu dou
no amor eu tenho dom em cada flecha um coração/ eu sou o Robin Hood da paixão””

Definitivamente, sem mais comentários... (e fica ainda melhor com a melodia!!!)

Não quero passar a impressão de que tenho algo contra o estilo, ou contra os autores / compositores do referido, este texto é uma forma bem humorada de demonstrar a caricaturização estereotipada dos estilos musicais, eu mesmo poderia escrever um livro sobre o Rock ‘n Roll e suas vertentes mesmo sendo partidário ao estilo. Cada qual se caracteriza por um tema mais recorrente. O Funk com a violência e erotismo exacerbado, o Axé com a inevitável necessidade de mandar as pessoas rebolarem e pularem ou o Forró onde não importa do que se fale desde que tenha o cangote de uma morena no meio. Tudo isto é culturalmente válido e faz parte do que somos, e antes isto do que sermos norte americanos! Em outras palavras é isto ou fazer parte de uma cultura que vomita no mundo coisas como Beyonce e Lady Gaga (Gaga?!?!?).

Todas as letras de música (em sua forma total ou parcial) e nomes de artistas presentes neste texto são propriedade intelectual de seus respectivos autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário